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Mostrando postagens de janeiro, 2020

Antero de Quental e Eduardo Lourenço - Sobre Portugual

Antero de Quental em seu discurso sobre as Causas da decadência dos povos peninsulares, aponta três causas da decadência portuguesa e espanhola a partir do século XVII: religião, política e economia. A partir desse olhar para a sociedade portuguesa, esse texto dialogará com Eduardo Lourenço, em sua obra Nós e a Europa ou as duas razões, no qual discorre sobre a importância de se ter um passado original, no qual garante a espessura do presente, e assim, consequentemente, abordará a questão central e problemática que se refere a identidade nacional. Antero organiza sua exposição, basicamente, em três partes, onde, primeiramente, ele dá um respaldo histórico sobre os grandes feitos peninsulares, depois, aponta a decadência a partir do século XVII e, por fim, oferece uma solução. Durante os tempos áureos a nação produzira em seu seio: santos, teólogos, papas, reis, cavalheiros, etc. Eram, segundo o autor, símbolos vivos da alma popular. Estes, sustentavam o espírito peninsular, onde a...

Breve análise do Livro de Linhagens e do Auto da Barca do Inferno - Conde D. Pedro e Gil Vicente

Livro de Linhagens Os Livros de Linhagens constituem um documento de relações genealógicas de membros de famílias nobres, porém, os mesmos não se reduzem a essa função. O impacto das narrativas no imaginário popular – social, cultural e histórico - inserem marcas nas pessoas, mais especificamente, a narrativa mítica, por exemplo, é parte essencial na formação da identidade familiar/nacional de Portugal. A identidade é a memória coletiva, na qual determina as características de um povo, ou de uma família. A história da velha lenda da Dama do Pé de Cabra ou de Dona Marinha vem tratar da origem de famílias nas quais se constituíram a partir da união de um cavalheiro com uma mulher desconhecida e sobrenatural. Nesse sentido, muito mais do que um documento histórico, o registro tem como intuito determinar a identidade das famílias e por consequência de parte da nação. O casamento de um cavalheiro cristão com uma mulher “extraterrestre” fundamenta aos olhos dos homens, por exemplo, o ...

O Mito Grego e o Logos Divino

Aqui, procuro contrapor o significado de mito e logos, e, de maneira um pouco mais profunda, discorrer sobre a diferença de ambos no sentido de relato de crenças (mitos) e relato de testemunhas (logos), a partir das explicações sobre a criação do mundo, abrangendo a questão da crença mítica grega e a fé no Logos divino cristão. Ao procurar no dicionário, é possível encontrar a palavra mito relacionada a fantasia, delírio e até mentira, mas também consta, ainda que de maneira incompleta, um significado fundamental: narrativa de teor simbólico e verosimilhante. Eu complementaria que o mito teve e tem função fundamental na cultura de qualquer grupo de pessoas/povo. Digo isso, pois olhando para a historiografia e o estudo, por exemplo, de Lacan e Freud, evidencia-se que o homem é um animal simbólico. A natureza humana exige sentido e o mito e sua simbologia o ajudam a configurar sentido as coisas, sustentando e fundamentando a cultura. O logos – em grego, palavra – significava n...

Reflexões sobre o Papel Social da Poesia: Platão x Aristóteles

A discussão acerca das artes, de um modo geral, é algo que discorre por toda a história humana, tendo boa parte de seus debates iniciados no período clássico – entretanto, sabe-se que a divergência entre filósofos e poetas é antecedente. Nesse período, a palavra Literatura ainda não existia, porém suas formas iniciais já estavam sendo tratadas por dois grandes pensadores da época: Platão e Aristóteles. O primeiro, é bastante crítico à poesia, ele a considera muito distante da realidade, pois seria uma mera imitação da mesma e por isso não seria boa para a formação de um homem virtuoso. Aristóteles, seu aluno, em oposição, diz que a imitação é boa, pois é fonte de prazer e conhecimento. O estudo desses dois filósofos atingiram patamares impressionantes, influenciando a civilização até os dias de hoje, entretanto os mesmos não encerram a complexidade da literatura. O pensamento Platônico compreende que a arte reproduz cópias do mundo sensível que por sua vez já são uma cópia do mun...

A Limitação do Saber ou da Linguagem - Roland Barthes e Platão

Disserto aqui sobre a última questão (questão oito), onde Roland Barthes discorre acerca do saber, onde a literatura é categoricamente realista, na medida que ela tem o real por objeto do desejo, mas afirma também, segundo ele, sem se contradizer, que ela é também: irrealista. Diante dessa brecha ou armadilha, assumindo o risco e tentando também não me contradizer, infiro que esse irrealismo, intencionalmente ou não, se assemelha ou se aproxima do idealismo/realismo platônico. Tentando traçar algum paralelo, exponho algumas anotações que me ocorreram diante da segunda força da literatura – a representação – e algumas concepções filosóficas. Invocando meu senhorio diante do texto, associo a impossibilidade da representação do real com a visão platônica – idealisticamente real – acerca das imagens primordiais e as suas cópias. Essas primeiras, pertencentes a uma realidade autônoma e perfeita não são expressas de maneira fidedigna no mundo sensível, apenas de maneira imperfeita. Den...

Reflexões sobre o Hedonismo e a Morte

O hedonismo pode ser combatido com esta arma: a morte. Quando há a soberba na carne, pode-se aparecer um impuslo sexual desenfreado. Porém, a consciência, tentando se elevar, relutará. Dentro da sabedoria cristã, o prazer sexual deve ser vivido de forma ordenada no casamento, ou melhor, após o recebimento da permissão consciente e verdadeira da esposa – ou do marido – e a do próprio Deus. Dentro dessa complexa e profunda realidade, é importante lembrar que um anel é apenas uma lata sem propósito, mas uma aliança é a união de duas almas generosas que escolheram elevar uma a outra ao cume da Existência. Sempre haverá essa tensão dialética entre o "eu" pecador e o "eu" ideal, sua carne confrontrará sua consciência, haverá falseamento, isto está entranhado na pessoa humana. Existe uma parte do homem e da mulher, e essa parte deve ser fortalecida, que luta contra as inclinações ruins. Abrir-se para os prazeres da carne é abrir-se para a infelicidade. Uma vez que se adqu...