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Resumo: Introdução à Poesia Oral (1ª Parte) - Paul Zumthor

Neste resumo, pretende-se analisar a primeira parte do livro Introdução à poesia oral – especificamente: 2.Precisando - que trata, basicamente, da relação, ou “confronto”, de oralidade e escritura dentro de noções conceiturais, sociais e literárias.

Paul Zumthor inicia o texto apontando a incerteza semântica referente aos termos folclore e cultura popular. Ele faz um pequeno percurso histórico mostrando e questionando – o reducionismo – a respeito da hermenêutica tratada. Por fim, o autor conclui que as concepções percorridas não o satisfazem em totalidade, porém indica algo, vago, mas que em sua concepção é inquestionável: grande parte das sociedades vivenciam tensões culturais, no âmbito “classista”, onde a oprimida detêm a função de desalienação da tradição e reconciliação do homem com o homem e com o mundo, se opondo assim a classe opressora.

Novamente, percorrendo considerações de outros autores, infere-se que as tentativas de classificação – distinguindo (temporalmente, espacialmente, qualitativamente, etc) poesia oral e escritura – se dá de maneira superficial. Associa-se então que há, diante do julgamento do diferente como inferior, a ideia, aplamente difundida, de que as formas orais de poesia são perjorativamente primitivas. Inicia-se um processo de confrontação de escrita e da voz. O autor amplia a função da linguagem, que era tratada apenas como lugar e meio de articulação, agora ela possui uma função extensa da vocalidade humana.

Diante de uma historiografia básica, Paul se depara com uma realidade: a oralidade, a partir dos últimos séculos, perdeu a sua “voz”, ou seja, a voz perdeu o seu espaço no mundo. Entretanto, percebe-se logo, com o advento midiático, que essa mesma voz recupera a sua força. Porém, ao recuperar sua força, outros elementos entram no jogo – com a sofisticação dos instrumentos tecnológicos e o peso de investimento financeiro gera-se um grande hiato humano – e evidencia-se uma discrepância do ato comunicativo oral, a oralidade novamente é
reduzida.

Em suma, segundo Zumthor, a oralidade se limita apenas pela impermanência e sua imprecisão. A escritura dissimula essas fraquezas. A oralidade reavivada, midiatizada, assegura a exatidão e a permanência, porém essa assume consequências: a submissão à quantidade (opondo-se a qualidade) e às novas tecnologias (opondo-se a “pura oralidade”).

Após uma análise acerca do cenário, o autor afirma que não há oralidade em si mesma, mas estruturas de manifestações. Ele diz que há um substrato comum que permanece entre todas elas: a atuação de interlocutores que compartilham de uma espécie de “contrato social/cultural comunicativo”, no qual efetiva a comunicação. Ademais, ele enfatiza que o falar não é apenas um desejo de se comunicar, mas também um instrumento de poder. Deste modo, o autor adentra a concepção de performance, onde a caracteriza como a ação completa pela qual uma mensagem poética é simultaneamente, aqui e agora, transmitida e percebida.

A partir dos tipos de oralidades determinadas e da perfomance, evidencia-se algo: a instabilidade semântica e metalinguística. Diante das interferências, o escritor diz que, quando a comunicação poética passa de um registro para outro ou um poema é performatizado oralmente (ou vice-versa), ocorre uma mutação e essa mutação permanece oculta no texto como uma riqueza latente.
Em síntese, o autor pergunta sobre a literariedade da poesia oral. Defende que há um discurso marcado, socialmente reconhecível de maneira imediata. Descarta, pela imprecisão, o critério de qualidade. E, finalmente, afirma ser poesia e literatura, desde que seja percebida a intenção, não apenas prática, mas de manifestação humana particular em um determinado tempo, lugar e grupo social, no qual gera um clichê global.

Sequencialmente, o autor discorre sobre a unificação feita por muitos folcloristas em relação as múltiplas narrativas – o que dá universalidade ao conteúdo - e diz poder ser fecundo quando serve à audição individual. Ele explica que as estruturas não são tão relevantes, mas sim os processos que sustentam a narrativa. Focando, especificamente, na função, o autor eleva o munus interpretativo, mas esclarece que caso este não seja bem entendido, poder-se-á incorrer em erro e banalidade. Zumthor enfatiza a importância da auto-desconstrução acerca do desejo de uma verdade universal e afirma que o princípio da não-contradição, por ser simplista, deve ser deixado fora de questão.

Paul Zumthor sintetiza seu questionamento revelando um território incerto entre o real vivido e o conceito. Descredencia o cientificismo no âmbito da análise textual aduzindo os olhares à complexidade e instabilidade entre emissor, código e receptor. Ele mostra que o conceito abstrai a ação do pesquisador e por isso, se esse não tiver habilidade, engajamento, etc., não conseguirá promover a aplicação à realidade concreta. Diante desse contexto, a nível do pesquisador há, segundo as palavras do próprio autor: “uma ideoletalização da linguagem crítica”.

Em suma, lutando por um lugar mais privilegiado à poesia oral, excluída pela literatura, o autor relativiza os conceitos tratados e considera a escrita uma forma opressora à plenitude poética e sua voz latente. Segundo ele, a poesia oral é um fato cultural extenso, porém a linguagem se reduz a instrumento de tradução, excluindo assim a análise. Essa mesma linguagem tende a transpor os contextos. Diante disso, a audição do singular se esgota no prazer, e a interpretação extrai da singularidade o universal, ainda que de maneira incompleta. Todavia, ele esgota o número de possíveis e conclui que as obras de diversos autores são testemunhas dos misticismos e psiquismos fundamentais e que definem o fato cultural. Segundo Paul, a linguística e a semiótica agem como ciências reacionárias nesse contexto, pois refreiam a especulação. Com isso, o autor infere, conclusivamente, que talvez a sorte seria substituir as antigas ficções da unidade pela ideia de prováveis concordância.

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