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ANNE WITH AN E: A série que poderia ter sido, mas não foi. Ou foi?




Anne, uma orfã do século XIX, chega à Ilha do Príncipe Eduardo e traz vida ao que estava morto. Como uma vela, a ruiva ilumina as pessoas que a recebem (lá, seus novos pais e, aqui, seus telespectadores).

Conforme assistimos aos capítulos, partes mortas de nós vão voltando à vida. Somos iluminados por uma infância-adolescencia – embora incomum – semelhante em muitos aspectos à nossa. Se me pedissem para resumir a personagem principal, eu diria: uma menina extremamente irritante, mas que, de algum modo, é como um rio que não para de jorrar vida.

O romance narra uma infância-adolescencia de pontos universais, onde nosso interior é remexido e nosso passado recordado. Através de Anne, lembramos das nossas primeiras amizades, das risadas bobas da infância, dos dramas existenciais adolescentes, das brigas desproporcionais, das reconciliações fáceis, dos amores romantizados, da contemplação das nuvens, das milhares de profissões que teríamos. Quem não sente falta disso?

O romance provoca suave nostalgia, sorrisos envergonhados, gargalhadas bizarras, lágrimas de emoção e um importante questionamento no âmago de quem assiste: será que deixei algo importante da minha infância para trás?

É preciso ter coragem para se questionar isso.

Pergunto: será que você ainda é capaz de imaginar um grande futuro para si mesmo?

O silêncio talvez revele que não.

Bom, talvez seja preciso dar uma oportunidade para Anne e, quem sabe, voltar a sonhar. Talvez seja necessário resgatar aquela antiga, porém fundamental, ferramenta humana: a imaginação.

Como assim? É isso mesmo! A imaginação! Não é bobeira e nem é coisa de criança. É coisa do ser humano, é coisa de GENTE.

Sem a imaginação continuaremos estáticos, endurecidos, sem perspectiva. Alguns grandes filósofos chamaram a imaginação de Potência da Alma. Eu prefiro repetir o que me ensinaram: "A imaginação é o farol que ilumina as possibilidades.".

E de fato, é. Sem ela, só enxergamos o “aqui” e o “agora”. Ficamos restritos a sentimentos superficais e prazeres curtos. Com ela, enxergamos a vida que podemos viver. Quem sabe uma vida com mais perdão, honra, compromisso e beleza.

O primeiro passo para realizar algo é imaginar este algo. Se não imaginamos, nem mesmo damos abertura para a ideia. Nos fechamos.

Coragem! É hora de se abrir! É hora de olhar para Anne e, por mais irritante que ela possa parecer, ou até ser, voltar a fazer planos, voltar a acreditar. No romance, Anne une pobres e ricos; brancos e negros; indígenas e fazendeiros; quem sabe ela também una em você o que está dividido.

Em Anne, é possível olhar para a tragédia e enxergar nela uma possibilidade de triunfo.

Talvez o primeiro passo para que você resgate sua imaginação (uma das potências da sua alma) seja assistindo ANNE WITH AN E (Anne com "e").

Alguns a criticam. Mas eu entendo, ela toca em muitas feridas. Alguns acusam a menina de flertar com o feminismo, outros, apontam uma nulidade utilitária na Série.  Sobre isso, faço três afirmações profundamente refletidas:

1) A aventura de Anne é uma virtuosa luta humana;
2) Sem a imaginação não haveria bem estar futuro;
3) A vida humana é muito mais do que Lados da Assembléia.


Por isso, corra - literalmente - para ver esta série. Ela pode ser interrompida por “não ter telespectadores suficientes” ou, como eu diria, “pela quase extinção da sensibilidade humana”. Logo, possivelmente, não estará mais na Netflix.

A série que era pra ter sido e não foi (para muitos), a meu ver, toma um rumo diferente, para mim, ela É.

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