É quando diminuímos que aumentamos. Essa paráfrase do texto sagrado me impõe uma reflexão urgente: para quem é tal fórmula?
Lembro-me da frustração daquele jovem, rico, quando ouviu as sagradas palavras: abre mão de tudo e vem comigo; ele pensou: cumprir alguns mandamentos, ok, mas abrir mão de tudo? E voltou para casa, com a fórmula ao avesso: aumentado, porém atrofiado.
Por outro lado, também lembro daquela moça, pobre, de pais Joaquim e Ana, que fora visitada pelo anjo de Deus. A sagrada criatura anuncia o convite divino – uma verdadeira enrascada – que pega a moça quase desprevenida, porém, ainda se recompondo de tal susto, e ao contrário do jovem, a moça, estranhamente, aceita. Ninguém aceitaria convite tão absurdo, mas, pasme, ela aceitou.
Ocorre que o jovem, rico, não se deixou diminuir e provavelmente viveu toda a sua vida de maneira confortável. A moça, pobre, tomou o caminho contrário, se deixou diminuir e – sabemos – viveu uma vida absolutamente desconfortável.
Sabe-se, porém, que a história não termina aí. E seria uma catástrofe valorar a vida humana exclusivamente em conforto ou desconforto. De que vale conforto, se você não vive o que foi feito para viver? Parece-me que a fórmula divina é o método para se viver o que fomos feitos para viver. Ainda que, às vezes, doa.
O jovem, no fim, talvez ainda embalado a vácuo, se confrontou, inevitavelmente, com a verdade: o meu tudo não era nada. Talvez ele tenha demorado em descobrir que o prazer só realiza os animais. A moça, por outro lado, tão diminuída e potente, estava nitidamente convencida de que tomou a melhor decisão, estava plenamente realizada e grata, pois não tinha nada, entregou seu nada e acabou herdando tudo.
Suspeito eu que a fórmula seja para todos aqueles que aceitam em seu íntimo que o amor é uma chaga.
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